LIVRO O menino dos olhos dourados PDF Fabrício Santos de Mello

Na finda e obsoleta casa, da última e abandonada rua, do derradeiro e menos importante bairro de DreamsTown, viviam os Morfeu, uma família humilde e veridicamente limitada a aparatos. A casa, de madeira escura e carcomida, de telhado sujo e abarrotado de folhas secas (apodrecidas e molhadas pela chuva do mês) e por último e não menos importante, possuidora de apenas uma porta e duas janelas, esticava-se na sombra de um pequeno bosque ao fundo, como um pontinho cinza claro no verde-musgo acinzentado. Na verdade, quem atualmente morava naquele desleixado barracão de madeira carcomida, não eram os Morfeu de puro sangue, mas sim, os Morfeu que pegaram tal sobrenome emprestado, e agora estavam vivendo sob a sombra do dito cujo. Os Morfeu verdadeiros? Bom, estes não estão mais em DreamsTown. Mudaram-se desta cidade há muito tempo condenados por seu sobrenome, e agora o que restou deles foi a finda e obsoleta casa, da última e abandonada rua, do derradeiro e menos importante bairro da cidade. Uma cicatriz que não doía. Não para os moradores de DreamsTown. Para atiçar ainda mais a curiosidade que guarda o peso do sobrenome Morfeu naquela cidade, sabe-se (muito bem por sinal, apesar de todos nesta metrópole construída sobre um regime patriarcado relutar em negar para si mesmos sobre essa casta) que eles eram muito influentes nas redondezas da cidade. Influentes até demais, diga-se de passagem. DreamsTown era uma cidade que cultivava o valor e os bons costumes. Era uma cidade que valorizava as famílias tradicionais que tinham enraizadas em suas árvores genealógicas, os mais eclesiásticos consensos e convicções a qual foram construídas e manteriam. DreamsTown não precisava de uma influência como a dos Morfeu. DreamsTown já estava modelada.