LIVRO A Culpa da Tempestade PDF Agláia A.V. Elias

Escrito em uma linguagem simples do meio rural a narrativa mostra com clareza o ambiente singelo do interior mineiro ilustrando a religiosidade inerente dos colonos nas fazendas de café, não sem deixar de exprimir o amor e o erotismo de uma forma especialmente poética como no trecho: “Ela ficou só no seu leito de viúva, com o corpo jovem a exigir-lhe vida”.A saga de uma família na qual seus membros amam um só vez e por conta disso são expostos ao preço e às vicissitudes, incluindo renúncia, que a luta por um grande amor pode trazer.Mesmo do alto de sua rígida formação religiosa retratada nesta obra por mais de cem citações de Deus, foi capaz de, com simplicidade, abordar “en-passant” um dos temas mais complexos da religiosidade, especialmente a cristã. Para fazer isso ela usa o personagem Raul, que desiludido na sua relação com seu irmão Paulo, pretende desistir da prática do bem por julgá-la, em função de seu martírio pessoal, não valorizada aos olhos de Deus. É nesse momento, que a autora discorre sobre o “Problema do Mal”, uma questão que tanto divide os teólogos da cristandade. Paralelamente à sua religiosidade de formação católica a autora demonstra estar aberta ao sincretismo religioso representado por episódios que sutilmente buscam explicações nas crenças de cunho espírita dos personagens.Por outro lado, “A Culpa da Tempestade” não é apenas uma história da gente do interior temente a Deus. Além dos recados que a fé da autora procura passar constantemente ao leitor, existem também considerações sobre política públicas relativas aos menores abandonados, fruto da experiência adquirida pela autora enquanto colaborava com trabalho voluntário nos juizados de menores nas comarcas no interior do Estado do Rio de Janeiro, onde seu marido funcionava como Juiz de Direito, nas décadas de 60 e 70 enquanto ela presidia as casas de apoio aos menores em cada município.Preparem-se para uma forte dose de emoção ao compartilharem a saga de vida do personagem Raul. Um personagem daqueles que a literatura classifica como tridimensionais, ou seja, os que mudam e se transformam no decorrer da narrativa.