LIVRO Obstinação PDF Salvatini da Silva
BAIXAR LIVRO ONLINE
Resumo
“Obstinação” é um thriller de aventura, ao estilo dos antigos seriados de western, escrito com o estilo de um contador de “causos”, com explicações cuidadosas sobre os atos dos personagens e suas consequências, reflexões sobre a vida e a sociedade, referências a passagens bíblicas e muito, muito humor.O ambiente são os pequenos povoados e cidades do interior do Brasil em inícios dos anos 1960, quando a oposição campo-cidade, profunda em diversos sentidos, se fazia sentir, entre outros pontos, na precariedade das estradas, a maioria sem malha asfáltica, dificultando a circulação de pessoas e riquezas, e na baixa instrução escolar do homem do campo, ainda isolado nas fazendas e pequenos sítios interioranos.O perfil dos personagens segue a lógica desse ambiente: há uma oposição entre a elite proprietária, inicialmente posseira de terras devolutas e que vive suas tensões internas na configuração política que lhe permite manter-se no poder, e uma grande massa camponesa submetida física e moralmente por meio do isolamento, da miséria e das relações autoritárias tradicionais de apadrinhamento que as mantém presas à terra. As figuras típicas são as do pioneiro que funda, pela ocupação das terras por meio do trabalho, braço armado e gestões políticas, o germe dos núcleos urbanos; sua mulher e filhos que representam, juntamente com a chegada lenta das notícias e das novidades tecnológicas, a ligação crescente do campo com os grandes centros urbanos, cujas idiossincrasias se revelam nas abissais diferenças nos modos de vestir e pensar em relação ao homem do campo; e o “matuto”, o camponês típico empregado das fazendas ou pequeno sitiante, vítima de sua própria ignorância. Este, na história de Salvatini, aparece com modos e fala um tanto estereotipados e pleno de uma honestidade e lealdade ingênuas que beiram a estupidez.Há um elemento central na história, que explica a obstinação de Bano – o principal personagem – e reforça seu caráter heroico de lealdade e seu sentido de missão: seu amor por Amelinha – sua esposa, subtraída de seu convívio num rapto a ele incompreensível. Se sua abnegação pela mulher amada e a nostalgia do lar perdido e do filho não conhecido o aproximam do herói grego Ulisses, sua certeza da retidão de caráter da mulher perante o ceticismo de Alice e Eva – suas novas pretendentes –, e mesmo de Dito – seu fiel escudeiro – aproximam a amada de Penélope. O desfecho da história reveste a personagem de uma personalidade quase divina, capaz, de provocar profundas reflexões no leitor envolvido na trama desde o seu limiar, oxalá como eu mesmo fiz. Alice, por anos apaixonada pelo matuto, se rende à figura benevolente e um tanto misteriosa a se desvelar já no epílogo de sua doce aventura, sobretudo pelos efeitos causados pela mulher até então dela desconhecida em seus companheiros de jornada.A história de Bano e seus companheiros revela-se ao final como a história de todos nós: a história da busca incessante de cada um por amor, companhia, conhecimento, sabedoria. Essa busca, tão importante quanto os pontos de chegada, se traduz em movimento, oposição, luta renhida, obstinação. Em suma, se traduz na própria vida, vivida intensamente, que é a única forma de viver que vale a pena. A paz, ao final, pelo menos nesta história, vem na figura de um elemento em tudo improvável a quem ainda não o conhecia, como a meta ou o destino final de todos os heróis, dos trágicos aos românticos, de Édipo ou Ulisses a Romeu ou John Reed. Ou é coincidência ou teremos que considerar a possibilidade de tê-las como parte da resposta. Pelo menos da resposta recorrente dada pelos poetas e escritores.