LIVRO Ano Neon PDF Kleber Bordinhão

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Resumo

no entre-lugar da poesia…Um conhecido filósofo gaúcho escreveu, certa vez, sob a forma de aforismo, que “a poesia é a filosofia ainda não traduzida”. Nada me parece mais apropriado para definir a poesia de Kleber Bordinhão, este jovem escritor que surpreende pela variedade temática e profundidade estilística e “pré-metafísica” (como diria talvez o tal filósofo) com que elabora seus poemas.Na minha modesta opinião, um dos maiores trunfos daqueles que se aventuram no gênero e conseguem atingir resultados satisfatórios está no equilíbrio entre o revelar-se e o esconder-se. O Kleber consegue exatamente isso em seus textos. Na corda bamba da poesia, ele expõe seus medos, alegrias e angústias, ao mesmo tempo em que disfarça, tergiversa, dissimula. E destacar a permanência neste entre lugar entre realidade e literatura, vida e arte, poesia e filosofia, enfim, é o maior elogio que se pode fazer ao autor. Se a vida continua lá fora, linda, sorridente, indiscreta, o autor prefere ficar imerso em si mesmo, nulo, brincando de poeta. Seu lamento é alegre e seu sorriso é aflito, quando o versejante Kleber percebe que viver é breve e escrever é esquisito.Kleber não é poeta local, embora a linguagem e as palavras sejam sua terra natal. Da cabeça de seu lápis, ele traça universalidade ao falar, por exemplo, do amor. É taxativo: ninguém é imune aos clichês do amor. O sangue coagula quando estamos perto da mulher amada. Coração partido? Nada de se resignar. O poeta compartilha. Facebook?Escondido nos fundos de uma livraria, o eu lírico morreu sonhando em abrir uma tabacaria. Enquanto isso o Kleber escrevia sua poesia. Olhos fartos, coxas roxas: a própria visão do desejo. O sexo: excitar à noite, incitar de dia. Casamento é ilusão de solteiro em cama de casal.O Kleber protesta contra o ano da profecia maia, brinca de Drummond ao falar do poeta das sete fadas e até ensaia um exercício concretista. Tudo para nos dizer que,do erro ao ego, não sabe viver. Será?Com a poesia do Kleber, a vida não é morna. A filosofia não é mínima. Ele abdica da realidade sem se divorciar dela: vão-se os anéis e ficam os dedos. É poesia que emerge do cotidiano e flutua na eternidade, num deleite estético incomparável e surpreendente.Ah, Kleber, teu espólio literário fará, sim, a alegria de teu filho, que já é, não sendo ainda. Porque a tua poesia pode até ser pequeno risco. Mas tem alma de pirâmide. É filosofia máxima. É celebração da vida. Como disse o poeta Jaime Vaz Brasil, “na cancha dos versos ela salta o sentido. (…) E nessa carreira do prado poema, tem a liberdade. Sua forma extrema.”Celebremos, pois, o entre lugar das grandes fissuras literárias e filosóficas que o Kleber nos proporciona. Após folhear suas mágicas e sugestivas páginas e saborear suas ricas imagens poéticas, o leitor compreenderá o enorme prazer que é ler boa poesia.Fábio Augusto SteyerDoutor em Letras (UFRGS)e professor de literatura brasileira naUniversidade Estadual de Ponta Grossa.